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Chocolate muda vidas

Três mulheres dedicam-se à confeitaria o ano inteiro, mas é na Páscoa que uma tradição secular abre novas portas. Com a crescente demanda por chocolates e doces temáticos, esse período permite que a paixão e a criatividade floresçam com o empreendedorismo feminino

Por Administrador - Nova Lima

Foto Robson de Oliveira

Foto Robson de Oliveira

A Páscoa, com sua rica história e simbolismo, carrega consigo elementos que falam de renascimento, esperança e prosperidade. O ovo, presente em muitas culturas como um símbolo de vida nova, nesta data ganha uma roupagem que o transforma em um dos ícones mais emblemáticos da modernidade – o ovo de chocolate. E, nas mãos de mulheres empreendedoras, isso se torna não apenas um símbolo de prosperidade, mas uma ferramenta para alcançá-la.

Em 26 de março se comemora o Dia do Cacau e, como também se trata do Mês da Mulher, o Jornal Banqueta conversou com empreendedoras de Nova Lima que estão se destacando no mundo da confeitaria, transformando a paixão por chocolates em histórias de sucesso. Embora tenham trajetórias distintas, essas mulheres têm algo em comum: não apenas dominam a arte de fazer doces, mas também utilizam seu talento e criatividade para impactar suas comunidades e abrir novos caminhos em um setor tradicionalmente dominado por grandes marcas.

Páscoa

A Páscoa é uma comemoração essencial para o cristianismo, marcada pela recordação da crucificação de Jesus Cristo e pela exaltação de sua ressurreição. Considerada uma das mais importantes celebrações para a fé cristã, a ocasião reforça a crença na natureza divina de Cristo, tornando-se um dos eventos mais simbólicos para os fiéis. Todavia, tanto o nome quanto as origens dessa tradição tem raízes que vem ainda antes de Cristo: a ‘Pessach’, que significa ‘passagem’, é a celebração judaica que rememora a libertação do povo hebreu da escravização no Egito – é de onde vem o termo ‘Páscoa’. Com o passar dos séculos, a tradição foi se transformando pelas influências culturais dos lugares onde foi adotada, e nesse processo se reforçaram símbolos como a lebre e os ovos. Hoje, a Páscoa mantém seu significado cristão e é celebrada por fiéis em todo o mundo. Ao mesmo tempo, o forte apelo comercial da festividade consolidou práticas - e gerou oportunidades - que vão além da religiosidade.

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Coelho

Há diferentes versões históricas que explicam como os coelhos passaram a ser associados à Páscoa. O nome da celebração em inglês, ‘Easter,’ é considerado por muitos historiadores uma das principais pistas para isso. Durante o processo de expansão do catolicismo na Europa, missionários assimilaram costumes germânicos às suas tradições, como a celebração da deusa da fertilidade, Ostera – ou Eostre, palavra que origina ‘Easter’. Seu símbolo, a lebre, representava renovação e prosperidade na primavera, período correspondente à Páscoa no Hemisfério Norte. Com o tempo, esse símbolo foi cada vez mais associado à ressurreição de Cristo, dando origem ao coelho como ícone pascal. Também há versões que alegam que um coelho teria sido o primeiro ser vivo a presenciar a ressurreição de Jesus. No entanto, não há consenso geral no tema.

Ovo

Assim como o coelho, a associação entre os ovos de galinha e a Páscoa tem raízes antigas e muito pouco consenso. Desde a Antiguidade, diferentes povos enxergavam o ovo como um emblema de fertilidade, renovação e renascimento. Os antigos gregos, por exemplo, os utilizavam em diversos rituais voltados para a fertilidade – que normalmente ocorriam na primavera, entre os meses de março e maio, assim como a Páscoa. Hoje, na Grécia, é tradição pascal pintar ovos de vermelho. A ‘Pessach’, celebração judaica já mencionada e relacionada à Páscoa, inclui ovos cozidos em seus ritos, ainda que com uma simbologia distinta. E, como se não bastasse, além da lebre, os ovos também são um dos principais símbolos relacionados à deusa Ostera. Com tanto simbolismo e referências já presentes em diferentes culturas, não surpreende que os ovos tenham se tornado um dos ícones mais tradicionais da Páscoa – embora isso, por si só, não explique porque agora são de chocolate.

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Chocolate

Como visto, mesmo antes de se consolidarem como símbolos da Páscoa, tanto os ovos quanto o coelho já carregavam significados relacionas à renovação e fertilidade. No caso dos ovos de galinha, já era costume, desde a Antiguidade e para diversas culturas, decorá-los e dá-los de presente. A partir disso, com o passar dos séculos, presentear com ovos decorados acabou se tornando uma tradição pascal. Até hoje alguns países mantêm a tradição dos ovos decorados, mas de maneira geral as versões de chocolate é que tem tomado conta do cenário mundial. E isso se deu a partir do século XVIII, quando há os primeiros relatos de confeitarias francesas recheando ovos de galinha com essa iguaria. E esses franceses de praticamente 500 anos atrás provavelmente não imaginavam que sua ideia mudaria para sempre uma tradição – e seria uma virada de chave na vida de muita gente.

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"As datas comemorativas são muito importantes para o setor, mas a Páscoa é como o Natal para as confeiteiras. É um período de alta demanda e grandes oportunidades"

​​Luciene Silva

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Tia Lulu

Nova-limense do bairro Bela Fama, Luciene Silva, de 47 anos, é garçonete, está cursando o Ensino Superior e concilia essas atividades com seu empreendimento. “Comecei na confeitaria há cerca de oito anos, quando adoeci e não conseguia trabalhar fora. Durante esse período, fui aprendendo e me apaixonando pela profissão. Pessoalmente, a confeitaria me traz muita alegria e, profissionalmente, desejo viver dela. Mas, no momento, ela ainda não se sustenta sozinha, e por isso continuo trabalhando fora. Empreender me dá mais segurança financeira, mas ainda há grandes desafios. Tem sido difícil lidar com a parte financeira e conseguir tirar meu negócio do ambiente virtual para uma loja física, por exemplo. Ainda assim, me imagino no futuro com um espaço próprio e minha marca consolidada. A faculdade é um plano para ter uma graduação, mas minha intenção é expandir o negócio”, conta Luciene. Seus produtos são vendidos sob encomenda e divulgados pelas redes sociais. Seus clientes podem entrar em contato pelo Instagram: @tialulu_doceria.

Laísla Doces

Laísla Roberta tem 24 anos e é natural de Nova Lima, mais especificamente do bairro Cabeceiras. “Minha trajetória na confeitaria começou de maneira natural, dentro do ambiente familiar. Sempre acompanhei minha irmã preparando docinhos de festa e minha mãe fazendo bolos para aniversários. Como desde cedo eu não gostava de depender financeiramente dos meus pais, para ter minha própria renda comecei a vender trufas na escola. E o que inicialmente era apenas uma necessidade acabou se tornando uma grande paixão. Indiretamente, entrei nesse universo aos 13 anos, vendendo trufas, mas foi aos 15 que decidi levar a confeitaria a sério e investir profissionalmente. Desde então, já são nove anos de dedicação ao setor”. Atualmente, ela vende seus produtos pelas plataformas on-line. Os contatos para pedidos e encomendas com Laísla são o WhatsApp (31) 9.9370-9173 e o Instagram: @laisla_doces.​

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Kel Trufas

Hoje com 44 anos, Kelcinara Ribeiro é nascida e criada em Nova Lima, onde também se dedica à confecção e à venda de chocolates. "Minha jornada na confeitaria começou com o incentivo de uma grande amiga, que me motivou a buscar uma renda extra. Em um momento de necessidade, senti que era a hora certa para investir na área, especialmente após receber palavras de encorajamento do meu pastor, Emerson Caetano. A paixão pelo mundo dos chocolates foi crescendo aos poucos. Quanto mais me dedicava e investia, mais me encantava por esse universo. Hoje, já são 17 anos trabalhando com chocolates, transformando essa paixão em profissão", relata Kel. Embora a maior parte de seus produtos seja vendida diretamente ao consumidor, quando ela passa pelas ruas da cidade, Kel também pode ser contatada pelo Instagram: @keltfruas.

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“Trabalho com chocolate de janeiro a janeiro, e no futuro planejo atingir um público bem maior. Sei que a confeitaria nunca vai sair da minha vida, e até a minha velhice quero estar trabalhando e desfrutando da arte do chocolate”

Kelcinara Ribeiro

Apoio da comunidade

No Brasil, o ramo dos chocolates e da confeitaria é dominado principalmente por grandes empresas que trabalham com produção a nível industrial, no entanto isso não intimida essas mulheres. “Não sinto que concorro diretamente com as grandes marcas, mas quando nos unimos, nós, pequenos empreendedores da confeitaria, ganhamos força. No início, os desafios foram muitos. Enfrentei portas fechadas e obstáculos, mas nunca desisti. Hoje, olhando para trás, vejo que os desafios do presente são bem menores do que aqueles que já superei", relata Kel. Já para Laísla, outra coisa que faz diferença é o apoio da comunidade. “Eu acredito que existe espaço para todos. Sou uma empresa pequena, mas com grande potencial de crescimento. Meu público é mais local, formado por pessoas que valorizam pequenos empreendedores e preferem apoiar negócios próximos da comunidade”, acrescenta.

Mudança de vida

Cada uma dessas três mulheres está em um diferente momento em relação ao empreendimento. Luciene ainda o concilia com outro trabalho e estudos, já Laísla acaba de dar um passo diferente. “Recentemente, voltei a focar na confeitaria como minha principal fonte de renda, após um tempo conciliando com o trabalho de técnica em enfermagem. Ainda estou me estabilizando financeiramente, mas vejo grandes progressos. A renda tem sido um alicerce para a economia familiar”, explica. Já Kel, hoje, consegue viver inteiramente da confeitaria, algo que também lhe abriu portas. "O chocolate transformou minha vida de forma muito significativa. Por meio dele, consegui realizar sonhos e fazer viagens que antes pareciam impossíveis. Tive a oportunidade de dar cursos na Espanha e em Portugal, algo que jamais imaginei. Hoje, graças à confeitaria, tenho uma qualidade de vida muito melhor e consigo administrar minha casa junto com meu esposo, além de contribuir para a economia da família", conta Kel.

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“Quando eu era mais nova, era muito raro ganharmos um ovo de Páscoa, e agora, poder proporcionar isso para as pessoas me faz muito feliz. Não tem nada mais gratificante do que ver nossos doces trazendo felicidade para alguém”

Laísla Roberta

Afeto

Ainda que o chocolate seja um produto, um dos maiores diferenciais do trabalho dessas mulheres é que entendem que o chocolate também é, acima de tudo, uma forma de amor. “Muito da confeitaria está ligado ao afeto. Quando eu era criança, não tive o privilégio de ganhar ovos de Páscoa. Hoje, ao ver pessoas recebendo trufas e outros doces feitos por mim, sinto que estou compartilhando amor. Não há feedback maior do que ver a alegria de quem recebe um chocolate da Kel", relata. E, apesar de ser de outra geração a partilhar outras vivências, essa experiência é parecida com a de Laísla. “Quando eu era mais nova, era muito raro ganharmos um ovo de Páscoa, e agora, poder proporcionar isso para as pessoas me faz muito feliz. Não tem nada mais gratificante do que ver nossos doces trazendo felicidade para alguém. Às vezes, um simples docinho pode transformar um dia e arrancar um sorriso de uma pessoa, e isso é muito especial”, finaliza.

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